Conheci o Sr. Manuel há cerca de dois anos, ele é um senhor de uns 68 anos.
Gostamos muito um do outro, ficamos amigos jantamos pelo menos uma vez por mês, é um homem cheio de vida e cheio de histórias para contar, um contador de histórias que dá gosto ouvir, um homem que apesar da idade é novo, no pensamento e na forma de agir, é um homem deste tempo.
Vejo nele o avô que não tive.
Via-o com regularidade na missa, canta no coro, com a pressa do almoço nunca espero por ele para o cumprimentar. Vejo-o ali e adivinho que está bem.
Quando encontro o filho ou a nora pergunto sempre pelo pai e pela mãe.
No sábado à noite contaram-me que o Sr. Manuel estava internado no hospital com pneumonia e algumas complicações.
Fiquei preocupado. Perguntei ao filho se o pai estava melhor, a resposta foi assim devastadora, disse-me: Infelizmente a situação do meu pai é muito grave, só mesmo um milagre o poderá salvar. Neste momento só nos resta rezar.
E rezo para que tudo corra da melhor maneira.
Tenho pensando tantas vezes que não nos falamos pela pressa das nossas vidas.
É assim, achamos que temos sempre tempo amanhã, e que nunca temos tempo para hoje.
Quando penso em ser pai acho que ainda é cedo por variadíssimas razões, porém sei que o tempo passa depressa e esta era a altura perfeita.
Já devia estar a morar sozinho, em vez de me organizar por objectivos e preparar o futuro juntando umas massas, vou gastando conforme o vento.
Em vez de juntar dinheiro por exemplo para fazer umas férias grandes num resort, de preferência, para estar ali de papo para o ar e engordar 6 quilos, vou gastando em jantares, em vinho e saídas e míni ferias no Alentejo.
Não vou ter tempo para ir a todos os países e cidades da minha lista. Não vou ter tempo para ler todos livros, nem ver todos os livros, nem brincar todas as brincadeiras com os meus sobrinhos, nem passear todas as vezes com a minha mãe.
Quando eu tiver tempo os meus sobrinhos já serão grandes e não irão ter tempo para o tio chato, o meu afilhado vai querer jogar à bola com os amigos, e a Matilde estará em frente ao espelho a escolher vestidos.
Neste aspecto tenho de gerir melhor o tempo, e tenho feito um pouco melhor, mas não o suficiente. É como se o meu tempo fosse muito curto e o precisasse apenas para mim.
E quando reparar terei 82 anos e fiz muita coisa e se calhar vai me saber a pouco, porém não deixarei de viver o dia de hoje, para viver o de amanhã ou daqui a quinze dias ou anos, porque não saberei quantos anos terei pela frente, nem quero saber.