Hoje de manhã juntei um colega e um estagiário para fazerem uma tarefa em conjunto.
O meu colega é bom camarada, mas estava a ter uma atitude parva para com o outro rapaz. Eu tinha posto o Bruno (o estagiário) a ajuda-lo e ele em vez de aproveitar a ajuda estava a complicar o trabalho do Bruno.
Enquanto o Bruno foi fazer outra tarefa eu disse ao Neves para ter cuidado, que não estava a ajudar o Bruno, tinha de ter cuidado e atenção porque era a primeira vez que o Bruno estava a fazer aquele trabalho. Eu fiz um comentário qualquer depois de perceber que havia ali um atrito e perguntei qual era o problema. Ao que o Neves reponde:
- Foda-se o gajo é paneleiro e está se a fazer a mim e eu não gosto disso (e não estava). - Eu passei-me está claro, ofendeu-me, tocou-me na ferida, ele não sabe que sou gay, mas o preconceito servia para mim também, se ele soubesse se calhar não nos dávamos bem. Eu perguntei se ele atrasado, expliquei que aquilo era preconceito, uma atitude infantil, e devia ter feito uma cara de zangado, fiquei vermelho de fúria, a conversa seguiu-se em modo bruto, também lhe disse que era novo para ter aquele preconceito todo. Claro que o preconceito ou homofobia nada tem a ver com a idade. Ele desculpou-se, disse que estava a brincar e mandou uma piada para o ar. Certo,certo é que enquanto não trocou de ajudante não ficou descansado.
O Bruno é gay, e não deve esconder, nunca lhe perguntei, mas percebe-se à primeira. O Bruno percebeu, quase de certeza, a situação do Neves não querer trabalhar com ele, nada disse e eu também não toquei no assunto. Pensei várias vezes do preconceito, más caras, gozo e etc. que os gays têm que aturar.
Todos na nossa vida já fomos gozados. Eu já fui, quando era pequeno chamavam-me maricas, mariquinhas, paneleiro, panasca, etc, etc.
Hoje não tenho tiques ou trejeitos, ou não tenho muitos, porque aprendi desde pequeno a ser como ELES por fora, mas nunca por dentro, hoje não sinto revolta, nem me lembro assim de nada que me tenha marcado muito pela negativa, pelo facto de ser gay.
Consegui esconder muitos anos este meu lado Gay, dos amigos, da família em geral. Houve sempre quem desconfiasse.
Hoje tenho o método não escondo mas não conto. Conto se perguntarem, se não perguntarem não conto.
Sou feliz assim, à minha maneira, nem melhor nem pior, por ser gay, mas bem resolvido comigo.
Escrevo assim porque todos os meus amigos aceitaram bem este facto da minha vida, e ninguém deixou de gostar de mim quando descobriu, apenas os meus pais ficaram desgostosos, mas é a vida e contornamos bem o tema e conseguimos conviver, com o meu lado gay e a desaprovação deles.
Para alguns foi um choque, para outros uma confirmação.
Sei que há pessoas que falam bem outras mal, prefiro que falem nas costas para que não as ouça, porque uma coisa que exijo é respeito.
Já basta de vez em quando levar com uma piadinha de gays e paneleiros, umas vezes contadas sem querer outras por querer.
Uma vez depois duma festa vinha de mãos dadas com o meu namorado, pela avenida da liberdade, lindos, maravilhosos e felizes, e vimos um senhor a olhar fixamente com cara de nojo e raivoso, continuamos ou de mãos dadas e abraçados. Eu esperava em ouvir qualquer coisa, mas o senhor conteve-se e eu fiquei bem comigo em não o ter largado e ter enfrentado aquele olhar recriminador .
Outra vez ignorei um senhor que pedia esmola (e que já conhecia de pedir muitas vezes) gritou Oh paneleiro do Cara***o vai ignorar não sei quem, ri-me e não me chateei.
Se um dia sentirem medo, ou deprimidos por serem gozados peçam ajuda a alguém que vós ame, ou um amigo fiel, ou então pensem ninguém é melhor do que eu.