A Morte
O tema deste mês do Com Canela, que partilho com a Cláudia e o Ricardo é A Morte.
A Morte é a coisa mais difícil da vida. O meu pai do alto da sua sabedoria popular lembra-me muitas vezes que para morrer é preciso estar vivo.
Pode ser uma coisa má, mas também uma coisa boa, porque a Morte liberta, acaba-se a dor e o sofrimento. Quando penso nisto lembro sempre da minha avó Chica que demorou dois meses a morrer, em sofrimento, apesar dos sedativos para não ter dores, sofria, por estar agarrada a uma cama e sem saber muito bem o que seguiria, não conseguia mexer-se, nem comunicar, tentou me dizer várias coisas antes de ficar inconsciente e morrer, e nunca consegui perceber.
A vida segue sem aqueles que amamos que adormeceram para sempre.
Lidamos muito mal com a Morte, em Portugal celebra-se pouco a Morte, e há um desejo enorme e uma pressa ainda maior de enterrar os mortos. Não se fazem homenagens, não se faz nada, normalmente acompanha-se o morto à cova e já está. Nunca se pensa no rito, nunca se ensaia em vida, nunca se fala.
Desde pequeno que a Morte está presente, muitas pessoas morreram, uns com mortes suaves outros mais dramáticas.
Imagino como será chegar aos 84, como no caso da minha avó Vivi e ver desaparecer tanta gente querida e mesmo assim querer continuar viva e cheia de alegria de viver cada dia com maior felicidade.
Chocou me bastante a morte do meu primo João que morreu aos 28, tínhamos 6 meses de diferença, isso mudou toda a maneira de viver a minha vida, passei a saber com certeza e de perto que a Morte tanto leva velhos como novos. Ainda por cima estávamos meio zangados, mas escrevi uma carta ao morto que mostrei a duas ou três pessoas e superei a minha dor.
A morte dos outros às vezes acaba com a vida dos vivos, matando-os aos poucos, costumo dizer que morrem para vida.
Ela ensina-nos muitas coisas, mas às vezes somos tão parvos que não percebemos que estamos cá pouco tempo e não devíamos ser mesquinhos e apenas tentar amar uns aos outros e perdoar quem nos fez mal, e se não conseguirmos perdoar, ao menos que tentemos perceber o erro e desculpar, se possível.
Nos dias a seguir a uma morte ficamos tocados pela vida que temos e damos graças, mas a seguir esquecemos e continuamos estúpidos como se fossemos imortais e tivéssemos todo o tempo do mundo.
Se há coisa que mais me entristece é saber que vou morrer. Ás vezes pergunto-me o sentido da vida, para que construir uma muralha, um castelo, uma torre se depois tudo acaba e fica escuro?