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o Homem Certo

No dia em que falei em publico

Convidaram-me para dar um testemunho, sobre um tema, eu aceitei.

Depois de aceitar comecei a pensar o que iria dizer, mas não me preocupei muito.

Os dias foram chegando e comecei a ficar preocupado. Pensava: se às vezes engasgo-me todo quando falo com o Bigodes, ou quando estamos em reunião o que será quando for para mais pessoas?

Como até sou (demasiado?) seguro de mim, fui pensando, pedindo aqui e ali conselhos e dicas, a Cláudia até me deu boas dicas e uma frase ou duas, assim que se encaixavam maravilhosamente.

Chegou o dia, tinha jantar e no fim falaria, veio o jantar, quando chegou à sobremesa já comecei a ficar nervoso, até que falou o primeiro interlocutor, o segundo e chamaram-me ao palco.

Eu que estava a meio da sala, quando me levantei e dirigia ao palco, comecei a ficar cheio de calor, o nervos a surgirem, parece que estava a fazer uma maratona, nunca mais lá chegava.

Pior quando se fica no começo da sala e olha toda a sala e só se vê cabeças, é que temos noção da quantidade de pessoas, era muita gente deviam ser entre cem e cento e vinte. Eu naquela altura já nem respirava, para ajudar, nunca tinha falado ao microfone, e é horrível ouvir a nossa voz.

Estão a ver aquela cena de filme em que alguém vai discursar e começa-se a ouvir um piiiiiiii e depois cai redondo ou teso no chão? Não aconteceu, mas podia ter acontecido.

Eu antes de falar lembrei-me disto (já em palco prestes a discursar), também não me ajudo em nada, não é? Para mais não levava cabulas, nem discurso feito, nem pontos para me guiar.

O que aconteceu? Depois de me apresentar comecei a falar e a perder-me no discurso, e estava tão nervoso a falar e a pensar no que tinha para dizer, o que não disse e o que não podia esquecer, que me fui esquecendo. De tão nervoso que estava respirava mal, ou não respirava, parecia uma velha a gemer, em vez dum rapaz a falar.

Um quase desastre e eu até tinha umas piadas feitas e tudo. A certa altura perdi-me por completo, olhei para o pessoal que estava na mesa próxima e perguntei aflito, o que é que eu estava a dizer?  Eles disseram, felizmente estavam a prestar atenção, se não tivessem, ainda estava lá à espera de encontrar as palavras que tinha perdido.

E acabei dizendo a bonita frase e é isto ou é tudo meus senhores.

Aplausos e foge dali, mas a andar calmamente e a sorrir envergonhado.

Quando me dirigia a mesa a minha irmã e a minha tia riam, assim quase a fazerem pinguinhas de xixi de tanto rir eu ri-me também, durante todo o discurso palavra sim palavra não soltava um estalido de língua tipo tchin, que nem dei conta, que só faço quando estou zangado ou algo me preocupa.

Aprendi que quando voltar a fazer alguma coisa do género levo tudo escrito e vou ler mil vezes para saber quase de cor, fui demasiado amador.

Os amigos e os mais próximos são sempre queridos dizem sempre muito bem, muito bem, mesmo sabendo que fomos muito maus.

Parece que trabalho numa empresa de malucos 2, O Bigodes

O meu patrão é um patrão à antiga.

Deve ter 65 anos, veste-se mal normalmente, usa bigode, é um bocadinho 8 e 80, tão depressa está bem disposto como a seguir esta aos berros e vice-versa. É um forreta convicto, aprendi muita coisa com ele, principalmente a ter respeito pelo valor do dinheiro, um cêntimo é um cêntimo. 

Apesar de forreta ajuda sempre quando é preciso. Admiro-o como pessoa, mas odeio-o como patrão.

A maioria dos empregados tem medo dele, borram-se todos sempre que os chama, eu não tenho medo nenhum do Bigodes, não lhe dou demasiada importância e até hoje ainda não gritou comigo, porque quando quer é uma besta.

Tenho sempre grandes conversas com ele daquelas de cinco minutos.

Gosta de explicar tudo, mesmo que já me tenha explicado 10 vezes, e se o interromper, adivinhando o que vai dizer, revira o bigode, e continua, às vezes pergunta-me se estou com pressa.

Ao principio não o percebia, e falar ao telefone com ele ainda é pior, quase que tenho de lhe adivinhar as palavras.

Falar com ele ao telefone, é a coisa mais rápida da vida, são cerca de 10 segundas.

Exemplo:

Ele - Olha preciso que faças isto assim assim, vais não sei onde.

Eu - Mas...

Ele- Pu Pu Pu Pu - Já desligou a chamada à três segundos a trás.

 

Acho que me gosta de experimentar, ás vezes pergunta quanto é que tenho a receber, dos negócios que fazemos, e eu digo o valor e ele passa o cheque, uma vez sem querer enganei-me e ele rectificou logo não é X é Y.

Sempre atento e em questão de dinheiro duvido que alguém o consiga enganar.

Já me enrolou algumas vezes, em que fico a perder e sou dou conta passado uma horas, às vezes dou logo, mas ele é que manda.

Palavra dita do Bigodes não é retirada e muitas vezes poucos têm coragem de a contestar.

 

Uma vez quase brigamos, ele ordenou que a partir daquele dia ia se fazer de uma nova maneira, eu disse que não dava, mandou me fazer no terreno, eu já sabia que não dava, mas fingi que fui tentar, entrei na sala dele, sentei-me e tivemos um discussão assim:

- Quero assim

- Não dá

- Mas eu quero assim

- Não dá

- Mas não dá porque?

- Expliquei

- Ah mas assim e assado

- Não dá

E repeti não dá, cerca de dez vezes até ele me mandar embora, e mais tarde ir constatar ele mesmo o facto.

E dessa vez ganhei.

 

E é assim, e fora do trabalho é um brincalhão, excelente anfitrião, um doce. Ali na empresa podia dizer que é uma besta. Mas no fundo e no geral até gosto dele.

 

 

                -

 

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